Doe para a Moeda Literária!
Moeda Literária é um recurso criado pela Felizs para garantir que estudantes de escolas públicas, professores e mediadores de leitura de coletivos socioculturais possam comprar livros diretamente dos expositores que participam do evento.
Sem as mobilizações comunitárias, não haveria Zona Sul. Sem as mulheres, não haveria mobilizações comunitárias. Defendendo seus filhos, exigindo políticas públicas, promovendo o cuidado coletivo, elas se fazem presentes na educação, na saúde, nas associações de bairro e nos movimentos culturais. São elas que lembram que, da ponte pra cá, a ditadura nunca acabou, e continua quando a polícia atira nos jovens e alega resistência armada, quando os indicadores sociais apontam as taxas de mortalidade, trabalho infantil e feminicídio nas periferias.
Sem elas, não haveriam os postos de saúde e escolas, mas também os terreiros, o samba, o funk, o maracatu, os saraus e as mostras culturais. Tomam sua própria palavra através da circulação da literatura negra e indígena, das bibliotecas comunitárias, da educação das crianças e cuidado dos ancestrais.
Através de Ana Dias, mulherageamos as mulheres periféricas que, teimosamente, sabem que a luta “não é para hoje, é para sempre”.
“A Luta não é para hoje, é para sempre.”
Ana Maria do Carmo Silva, esposa do operário Santo Dias da Silva. Assassinado em 30 de outubro de 1979, dois meses após a aprovação da Lei da Anistia. Ana Dias, como passou a ser chamada firmou a responsabilidade de manter viva a semente de Santo, militante da oposição metalúrgica em São Paulo, morto pela Polícia Militar durante piquete em frente a fábrica de lâmpadas Sylvânia, em Santo Amaro, zona sul da capital. Na época em que o direito de greve ainda não era reconhecido, os grevistas lutavam por melhores condições de trabalho, salário e pela livre expressão de suas reivindicações. O assassinato de Santo Dias causou uma reviravolta na greve, que estava prestes a terminar e acabou ganhando novo fôlego: em uma assembleia, seis mil operários decidiram manter o movimento. Ela e o marido também militavam nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica ao lado de trabalhadores rurais e urbanos. No final da década de 1960, afetados pelo êxodo rural, ambos migraram do interior de São Paulo para a capital, onde fixaram moradia na periferia do Jardim Ângela. Por meio de um trabalho ligado à emancipação feminina na política, Ana Dias também integrou o Clube de Mães de Santa Margarida na zona sul e iniciou diversos outros clubes de mães que se disseminou por diversos bairros da periferia, nas trincheiras de luta, Ana Dias, a exemplo de outras mulheres, contestou as políticas econômicas do regime militar, reivindicando na campanha popular de massa que ficou conhecida como Movimento Custo de Vida. Alvo recorrente de ameaças e de tentativas de silenciamento, Ana Dias manteve se firme na resistência, motivada pelo propósito de preservar a memória e a história e, como ela mesmo diz, na força da mulher guerreira “tentando contar para os que estão chegando e para os que ainda vão vir que a luta não terminou, que a luta é essa: da mulher e do homem”. Atualmente participa ativamente do Comitê Santo Dias que anualmente, organiza atos públicos no local onde o marido foi assassinado. Ana Dias conta também com o engajamento da filha Luciana Dias e do filho Santo Dias da Silva Filho.